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Sábado, 28 de Julho de 2007

Dactilografia

Traço sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,
Firmo o projecto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tic-tac estalado das máquinas de escrever.
Que náusea da vida!
Que abjecção esta regularidade!
Que sono este ser assim!

Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavaleiros
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.

Outrora.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tic-tac estalado das máquinas de escrever.

Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhamos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos num substrato de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.

Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;
Neste momento, pela náusea, vivo na outra...

Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro.
Ergue a voz o tic-tac estalado das máquinas de escrever.

Álvaro de Campos

 

 


publicado por Lara às 23:15

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Domingo, 22 de Julho de 2007

Balada da Neve

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
- Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança...

E descalcinhos, doridos...
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!...

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...


E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
- e cai no meu coração

Augusto Gil, Luar de Janeiro


publicado por Lara às 21:53

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Terça-feira, 17 de Julho de 2007

Livro de Horas

Aqui, diante de mim,
Eu, pecador, me confesso
De ser assim como sou.
Me confesso o bom e o mau
Que vão em leme da nau
Nesta deriva em que vou.

Me confesso
Possesso
Das virtudes teologais,
Que são três,
E dos pecados mortais
Que são sete,
Quando a terra não repete
Que são mais.

Me confesso
O dono das minhas horas.
O das facadas cegas e raivosas
E das ternuras lúcidas e mansas.
E de ser de qualquer modo
Andanças
Do mesmo todo.

Me confesso de ser charco
E luar de charco, à mistura.
De ser a corda do arco
Que atira setas acima
E abaixo da minha altura.

Me confesso de ser tudo
Que possa nascer em mim.
De ter raízes no chão
Desta minha condição.
Me confesso de Abel e de Caim.

Me confesso de ser Homem.
De ser o anjo caído
Do tal céu que Deus governa;
De ser o monstro saído
Do buraco mais fundo da caverna.

Me confesso de ser eu.
Eu, tal e qual como vim
Para dizer que sou eu
Aqui, diante de mim!

Miguel Torga


publicado por Lara às 18:49

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Quarta-feira, 4 de Julho de 2007

Os "Deuses" Também Choram

 

Choram desde o Dia em que os humanos os confrontaram

Tomando para si mesmos o controle das suas vidas

Por essa altura surge-lhes um poderoso aliado

Que expelido do Espaço

Aqui encontra terreno fértil às suas ambições.

 

Desprotegidos, depois de a seu lado lutarem

Hoje são pasto emocional de um "Deus" expelido

 

Os homens não amam mais os "Deuses"

Amam um homem

Que se intitula Deus.

 

"Demos" ambicionou tomar conta da Galáxia só p'ra ele

Fazer dela o seu domínio exclusivo

E, conseguiu

Conseguiu vencer

No pequeno globo antes protegido por seres da Essência Cósmica.

 

Choram os "Deuses" a sua derrota

Choram os "Deuses" os homens ambiciosos

Que se juntaram ao Pérfido Vingador

Choram os "Deuses" toda a Humanidade

Que esquecida

Rasteja na baba viscosa largada por toda a terra

De um "Deus" único

Vindo de longe

De muito longe...

 

Choram os "Deuses", a sua própria existência

Quando pela eternidade fora

Vão vivendo uma vida indesejada

Longe dos seus

Choram cada humano que com eles se cruza e diz que não entende

Que não os conhece

Que eles não são "deuses"

São homens...

 

Choram a diferença

A Indiferença

O desprezo e a arrogância

O desamor e a falta de entendimento

Numa terra que decidiram nos primórdios adoptar.

 

Porque se não foram embora

Acompanhando os seus irmãos

 

E...

Insistiram em ficar

Para lutar

Lutar na sombra

Sem Glória

Sem conforto

Sem Amor

Perderam até hoje

E, perderão sempre

Porque nunca se entregaram

Ou entregarão

Aos que aqui estão

E... choram

Choram sempre

O Desamor

A Mentira

E... a dor

 

Choram a grandeza da sua pequenez

E, da sua perda.

 

Saudade

 

Saudade de mais um tempo

De

Cada tempo que foi mais um tempo que passou.

 

A Casa ficou distante

Cada vez mais distante

 

Chora "deus" a tua incompreensão

Por tão grande piedade

Morres às mãos daqueles que vivem por ti verdades inacabadas

Incompletas...

 

Parem as lágrimas dos "deuses" menores

Que querem continuar a ser o que são

 

Nada!

Lazulli, da CasadeCristal.

 


publicado por Lara às 23:33

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Domingo, 1 de Julho de 2007

Letra Para Um Hino

É possível falar sem um nó na garganta
É possível amar sem que venham proibir
É possível correr sem que seja a fugir.
Se tens vontade de cantar não tenhas medo: canta.

 

É possível andar sem olhar para o chão
É possível viver sem que seja de rastos.
Os teus olhos nasceram para olhar os astros.
Se te apetecer dizer não grita comigo: Não.

 

É possível viver de outro modo.
É possível transformares em arma a tua mão.
É possível o amor. É possível o pão.
É possível viver de pé.

 

Não te deixes murchar. Não deixes que te domem.
É possível viver sem fingir que se vive.
É possível ser homem.
É possível ser livre livre livre.

 

Manuel Alegre, O canto e as armas


publicado por Lara às 15:07

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